A pós-verdade, termo brevemente definido como a desvalorização dos factos em detrimento dos interesses pessoais, apresenta como principal fenómeno as notícias falsas. Essas formas mediáticas de manipulação dos textos e imagens encontra o apogeu num ambiente info-comunicacional polarizado, onde o discurso sobre a verdade não é único. Essa subtil interseção entre a política e a filosofia na contemporaneidade marca a ressignificação da verdade e fornece amostras do impacto dessa estratégia em diversas democracias ocidentais. A partir dessa observação, este trabalho propõe um estudo de caso que explora como os jogos críticos podem fazer emergir o pensamento crítico no jogador, promovendo a literacia mediática. Para isso, foi desenvolvido um protótipo funcional chamado Lado B, orientado para a exploração da literacia procedural, conceito que remete à leitura, escrita e crítica sobre o sistema de jogos. Jovens estudantes do ensino superior e jornalistas foram entrevistados após testes e reportaram a experiência com o gameplay e a compreensão crítica acerca das questões abordadas no jogo, providenciando um exercício do pensamento crítico a respeitante ao mundo, ou seja, já fora da diegese do jogo. A partir dos comportamentos que emergem dessa experiência, traçou-se uma análise entre o jogador e o sistema de jogo, centrada na ação do jogo – nas interações que o levaram à experiência; e no significado do jogo – o aprendizado e a reflexão crítica sobre o contexto. Lado B não é um protótipo imutável. É o ponto inicial de um estudo que pode ser ampliado simbioticamente com outras áreas de conhecimento, como a Computação, o Design e a Educação. Essa sinergia converge com a transversalidade do protótipo em levantar discussões filosóficas a respeito da moral e da ética do indivíduo em sociedade. É também uma orientação aos programadores e design de jogos, para que tenham em mente que os jogos críticos têm a capacidade de minimizar erros e estratégias de destruição da capacidade do ser humano de pensar criticamente.
- : https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/122064
- : Juliana Vieira Valentim
- : Repositório Aberto da Universidade do Porto